Friday, May 30, 2008

Kamp Vught

Final de semana passada visitei um dos campos de concentração nazista na Holanda: o campo de concentração Vught, ou Kamp Vught como ele é mais conhecido por aqui. Para quem quiser saber mais detalhes sobre ele, clique aqui (site em inglês).


O Kamp Vught, no seu tamanho original, não existe mais, somente uma parte dele. Nessa parte existe um museu, o qual foi o local que eu visitei. No museu são mostrados vários relatos da época e também roupas e instrumentos usados pelos prisioneiros. Existe também uma maquete em cimento que mostra como era o Kamp Vught. Um detalhe sobre o Kamp Vught, ele foi o único campo de concentração nazista fora da Alemanha sob o controle direto da SS, ou Schutzstaffel, uma espécie de tropa de elite do regime nazista.

O museu mantém algumas partes originais do Kamp Vught tais como parte do alambrado, o canal de água e o crematório. Outras partes, tais como as torres de observação e o arame farpado, são uma réplica de época. Vale lembrar que a entrada é franca. Se o visitante quiser um material em inglês com informações sobre o campo, o custo ficará em torno de 3,00 Euros.

O museu em si é pequeno, uma tarde é suficiente pra visitá-lo. Entretanto, sai-se de lá com uma "boa" idéia de como os prisioneiros eram tratados. O que mais me impressionou foi o crematório (foto abaixo) e a área de fuzilamento, que fica a 20 minutos de caminhada do museu.

Dentro do crematório existem várias salas. Boa parte delas eram usadas pelos nazistas para armazenar alguns produtos usados no crematório, mas também corpos dos prisioneiros. Em uma das salas, chamada de laboratório, os médicos nazistas faziam experimentos com os corpos dos prisioneiros, muito deles conservados em formol. Acreditem, o cheiro está ainda impregnado lá dentro... é chocante.


Dentro do crematório está também a cela 115. A cela 115, 9 metros quadrados de tamanho, é famosa porque 74 mulheres foram aprisionadas nela durante 14 horas.

Depois de passada as 14 horas, a cela foi reaberta pelos guardas nazistas, os quais constataram que 10 mulheres haviam morrido. As outras 64 estavam num estado de completa desidratação e com queimaduras pelo corpo provocadas pelo suor e a falta de ventilação. Uma das sobreviventes relatou a experiência dizendo: "Quando as luzes se apagaram, um pânico grande levantou-se entre as mulheres. Era um som estranho do confinamento, que às vezes diminuia, mas aumentava novamente logo em seguida. Era um som causado por mulheres rezando, gritando e se apavorando. Algumas mulheres tentaram acalmar as outras, assim oxigênio seria salvo. Algumas vezes isso ajudava, mas então o pânico recomeçava novamente. E não pararia... ele continuou durante toda a noite. Ele diminuiu mais tarde, entretanto, quando o calor era tanto que sufocava a todos nós."
Não satisfeito com a repercussão que o caso da cela 115 tinha dado, o comandante do Kamp Vught, Adam Gruenewald, foi chamado para julgamento pelos seus superiores da SS. Ele então foi reduzido ao posto de soldado comum e enviado para o fronte na Rússia. Em 1945, ele morreu em combate.

A parte do crematório que mais me impressionou foi a parte onde as fornalhas estão instaladas.

As fornalhas são originais de época. Mais uma vez, o cheiro é algo que choca. A presença de instrumentos pra limpar as fornalhas após as cremações só confirma a falta de dó dos nazistas. Tudo era meticulosamente feito com uma grande frieza. Alguns prisioneiros eram encarregados de carregar os corpos até o crematório. É difícil imaginar o quanto eles sofreram naquele local, mas o que se enxerga por lá ajuda a ter uma impressão.

Outro local impressionante é a área de fuzilamento. Do museu até o local de fuzilamento se caminha pelo meio da mata, onde o silêncio é enorme. Somente se escuta o ranger dos galhos pelo vento e alguns pássaros. Chegando-se ao local se avista uma grande área, onde no final da mesma existe um memorial para aqueles que foram fuzilados naquele local. Na parte superior, existe uma cruz de madeira em homenagem aos que morreram ali.

Esse local já sofreu vários ataques por parte de neo-nazistas. Em um deles, suásticas foram pichadas no memorial, o qual teve que ser refeito, pois a tinta impregnou na pedra.

Como última parte da visita, existe uma sala no museu que mostra o nome de todos aqueles que morreram no Kamp Vught. Um relato interessante sobre uma das vítimas. Um jovem de 17 anos, Jan Herberts, cometeu um ataque contra um soldado alemão durante a ocupação alemã na Holanda; ato qual era considerado muito grave e resultava em pena de morte. Entretanto, devido a convenção de Geneva vigente naquele tempo, nenhuma pessoa abaixo dos 18 anos poderia ser executada. Mas os nazistas foram pacientes, eles esperaram até o dia que Jan completasse os seus 18 anos. Um dia após completar 18 anos, Jan foi fuzilado, apenas algumas semanas antes do campo ser libertado pelos aliados.

Confesso que fiquei impressionado com o local. É uma boa lição de história que mostra o resultado de intolerância movida com fanatismo.

Abraço a todos!!!


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The post above reports my visit at the Kamp Vught. In brief, the visit was an unique (and shocking) experience. Within the Kamp premisses it is possible to see some of the still remaining parts of the original concentration camp, specially the crematorium and execution by firing squad field.  For more information about this WWII SS concentration camp, I recommend the visit to the following Website: National Monument Kamp Vught

Stay cool!!!

1 comment:

Kaqui said...

Só não entendi o porquê de terem colocado uma cruz no local do fuzilamento quando grande parte dos que ali morreram eram judeus e morreram devido à sua religião.
No mais, muito interessante teres ido até aí e registrado o lugar. Dá arrepios e é isso que deve ser preservado pra não ser esquecido.